Você já sentiu aquele aperto no peito por não ter certeza sobre algo que está por vir? Pode ser o resultado de um exame, a resposta de uma entrevista de emprego ou até mesmo o rumo de um relacionamento. Esse desconforto, que muitos de nós conhecemos bem, tem nome: intolerância à incerteza. Vivemos em uma sociedade que valoriza o controle e a previsibilidade. Mas a vida, com sua natureza imprevisível, insiste em nos lembrar que não temos o controle de tudo. É nesse choque que nasce grande parte do sofrimento emocional.
O que é intolerância à incerteza?
A intolerância à incerteza é a dificuldade em aceitar que não conseguimos prever ou controlar todos os desdobramentos da vida. O nosso cérebro adora previsibilidade — funciona como um GPS mental, sempre tentando antecipar rotas para nos manter em segurança. Mas a vida não vem com GPS. Ela é feita de curvas inesperadas. No meu consultório, acompanhei a história de uma paciente que sofria toda vez que o chefe demorava a responder um e-mail. Para ela, aquele silêncio significava algo errado. A incerteza se transformava em dor antecipada. Perceba: não é a incerteza que machuca, mas a forma como reagimos a ela.
Por que sofremos tanto com o não saber?
A mente humana associa incerteza a risco. Se não sei o que vai acontecer, meu cérebro entende que estou vulnerável. E isso ativa sentimentos como ansiedade, irritabilidade, insônia e dificuldade de concentração.
Já acompanhei um paciente que checava compulsivamente os e-mails de trabalho, com medo de perder alguma informação importante. Essa busca incessante não trazia segurança, apenas mais exaustão.
Aqui vale a reflexão: quantos momentos você já deixou de viver no presente porque estava ocupado demais tentando antecipar o futuro?
Como a intolerância à incerteza aparece no dia a dia
Ela se manifesta em diferentes comportamentos, como:
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Evitação: “Prefiro nem pensar nisso agora.”
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Busca excessiva de garantias: “Preciso de uma resposta imediata, senão não consigo relaxar.”
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Procrastinação: adiar decisões importantes com medo do resultado.
Identificar como você reage diante da incerteza já é um primeiro passo para mudar sua relação com ela.
Caminhos para lidar melhor com a incerteza
Aceitar o não saber não é fácil, mas é possível treinar a mente para lidar melhor com ele. Algumas estratégias que aplico na prática clínica e que você pode experimentar:
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Aceitação gradual: reconhecer que a incerteza é parte inevitável da vida.
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Flexibilização do pensamento: trocar “não vou aguentar” por “posso não gostar, mas consigo lidar”.
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Exposição ao incerto: permitir-se viver pequenas situações sem controle total, como sair sem destino definido ou experimentar algo novo.
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Atenção plena (mindfulness): cultivar o foco no momento presente para reduzir a ruminação.
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Autocuidado: manter pausas, lazer, sono adequado e conexões sociais que reforcem segurança emocional.
Um exemplo prático: uma paciente pesquisava obsessivamente na internet sobre um exame que faria. O excesso de informações aumentava sua ansiedade. Trabalhamos para reduzir essa busca e focar em atividades presentes. Aos poucos, ela percebeu que estava mais calma e preparada para lidar com o resultado, fosse qual fosse.
Transformando o medo em possibilidade
A incerteza pode ser desconfortável, mas também carrega em si a chance do novo, do crescimento e das oportunidades inesperadas.
Não se trata de eliminar o não saber, mas de aprender a caminhar com ele.
Talvez a pergunta que possamos nos fazer seja: como transformar o medo da incerteza em curiosidade pelo que pode vir?
Conclusão
Não sofremos porque existe incerteza, mas porque resistimos a ela. Quando aprendemos a flexibilizar pensamentos, cultivar autocuidado e nos expor a pequenas doses de imprevisibilidade, começamos a descobrir que é possível viver com mais leveza.
No fim, a vida não pede de nós controle total — pede presença, confiança e disposição para seguir mesmo sem ter todas as respostas.