Nos últimos anos, o home office se tornou realidade para muitas pessoas. Ele trouxe praticidade e mais autonomia, mas também revelou um lado desafiador: o impacto do isolamento na saúde mental. No meu consultório, tenho acompanhado de perto os efeitos desse modelo de trabalho, e é sobre isso que quero conversar com você hoje.
O que me motivou a falar sobre esse tema
O trabalho remoto trouxe ganhos importantes, mas também abriu espaço para novas dificuldades emocionais. Muitos pacientes relatam a sensação de estarem sempre disponíveis, como se nunca pudessem desligar.
Um caso que me marcou foi o de uma paciente que não tinha coragem de fechar o computador antes das 23h, porque sentia culpa por não estar produzindo. Esse tipo de comportamento é mais comum do que parece e, com o tempo, leva à ansiedade, ao cansaço extremo e até ao burnout.
Por que o isolamento pesa tanto?
Nós somos seres sociais por natureza. O contato humano, as trocas, até mesmo uma simples conversa no corredor ou uma risada espontânea durante o trabalho funcionam como fatores de proteção para a nossa mente.
Quando o isolamento se prolonga, pensamentos disfuncionais começam a aparecer: “estou sozinho”, “não estou rendendo o suficiente”. A falta de convivência tira de nós pequenos reforços positivos que fazem diferença no dia a dia — um feedback, uma ideia compartilhada ou a sensação de pertencimento.
Não é raro ouvir de pacientes que, após meses de home office, se sentem desconectados da equipe e desmotivados.
A força das conexões
Conviver é uma forma poderosa de cuidar da mente. Estar com outras pessoas ajuda a quebrar o ciclo da solidão e dos pensamentos negativos.
Tomar um café com colegas, trocar ideias sobre um projeto ou simplesmente compartilhar momentos de descontração são pequenas ações que ativam o bem-estar. Inclusive, pesquisas mostram que redes de apoio reduzem o risco de depressão e aumentam a resiliência diante de crises.
Na minha prática clínica, costumo incentivar que os pacientes incluam no calendário atividades que tragam prazer e socialização — seja participar de um grupo de leitura, ir a um coworking ou fazer uma caminhada com amigos. Essas escolhas simples podem mudar completamente a forma como nos sentimos.
Pequenas mudanças que transformam
Proteger a saúde mental não precisa ser complicado. Algumas mudanças de rotina já fazem diferença:
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Quebre a rigidez: alterne os locais de trabalho entre casa, coworking ou até um café.
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Inclua pausas conscientes: planeje momentos de descanso e lazer.
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Ative o social: busque encontros presenciais ou participe de redes de apoio.
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Defina limites claros: estabeleça um horário para encerrar o expediente.
Lembro de um paciente que decidiu trabalhar uma vez por semana em um coworking. Pouco tempo depois, relatou uma melhora significativa no humor e também na produtividade.
Como a psicoterapia pode ajudar
Muitas vezes, o problema não está apenas na rotina, mas também nas crenças rígidas que carregamos. É comum ouvir frases como: “se eu parar, vou ser improdutivo”.
Na terapia, trabalhamos para questionar esses pensamentos e substituí-los por outros mais funcionais, como: “quando faço pausas, produzo melhor”. Também incentivamos a planejar atividades que tragam prazer e socialização, além de acompanhar o humor para perceber como pequenos ajustes já impactam no bem-estar.
Atitudes simples para começar agora
Se você deseja se proteger do esgotamento, pode adotar algumas atitudes já no próximo dia:
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Estabeleça horários definidos para começar e terminar o trabalho.
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Faça pausas a cada 90 minutos para alongar ou respirar fundo.
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Planeje ao menos uma atividade social na semana.
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Use lembretes visuais para reforçar seus limites (um simples post-it com “Desligar às 18h” pode ser poderoso).
Uma mensagem para você
Quero finalizar lembrando que trabalhar junto faz bem porque nos mostra que não estamos sozinhos. Nossa mente precisa de pausas, movimento e contato humano para se manter saudável.
Se você cuidar das suas conexões e flexibilizar um pouco a rotina, vai perceber que é possível equilibrar produtividade e bem-estar. No fim das contas, não se trata de trabalhar mais, mas de trabalhar melhor — e viver com mais qualidade.